28/08/06

pôr do verão



leva o poema com as mãos em chamas e deposita-o num cume de luz. sobe lentamente o meu peito. semeia uma letra que seja. um princípio de tempestade. bebe-me como se cada ponto não fosse suficiente para te matar a sede. acorda a cabeleira em fogo da queda d´água. lava-me por dentro. os meus lábios correm aflitos pelos espaços em branco. diz-me que a resposta é uma longa prece. seios em mim. estalido de pele. gritos abraços beijos joelhos colados à relva molhada. diz-me que a chuva de verão cai para te mordiscar o lóbulo. manda-me o teu corpo coberto de folhas. o cheiro da chuva em terra seca. guia-me pelo primeiro fio de orvalho que tomba na rosa. depressa antes que os meus braços sejam derrotados.


*

(quadro de van gogh)

3 comentários:

kikas disse...

Há algum tempo que venho acompanhando de perto este blog, no entanto apenas me limito a ler e a observar.
São palavras que me indicam a direção de alguem e como tal muito pessoal, mas hoje resolvi deixar os meus parabens, esta escrita é deliciosa e una.

www.riscos-rabiscos.blogspot.com

Anónimo disse...

"o cheiro da chuva em terra seca"...essa chuva cálida e traiçoeira de Agosto num prenuncio de Outono.os corpos cheios de barcos .os barcos cheios de braços desfraldados como velas.sombras girando nas sombras dos corpos...ávidas corolas hibernando.depressa,depressa antes que meu corpo naufrague.nenhum amor cabe num corpo só...

inBluesY disse...

extraordinário.