uma mulher
conheci uma mulher que aparava limalhas de azul à luz moribunda do poente. colado à pele trazia um extenso cordão de espuma. não a espuma inútil da baínha do mar. não a espuma com que o pudor veste o medo.na verdade não era bem espuma. mas um um afluente de suor lácteo. uma mulher cujo corpo bramia na palma de um vento macio. um cantâro de àgua que apetecia levar a todas as esplanadas. uma mulher que cheirava a tílias quando no tronco da noite a pele estala em beijos insaciáveis como as altas noites de verão. uma mulher fiel ao prazer cego.uma mulher sentada no seu próprio sexo. na boca dessa mulher a glande é um fruto que amadurece numa longa tarde de pastoreio. a língua dessa mulher é um pedaço de céu rosa que desce pelas paredes nuas do quarto pronta a desvendar os virgens enclaves de um corpo navegável. gostava de morrer entre as pernas dessa mulher. beber-lhe o suco até ao último degrau da fusão.
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(fotografia de greta garbo)
1 comentário:
Conheci um homem que tem várias mulheres no pensamento. Era um homem pequeno e raro, desses que a morte há-de levar por interesse. Conheci-o perto do mar, porque convém a qualquer actor um bom cenário. Enquanto as ondas batiam nos olhos dele, o sal foi temperando as palavras em forma de verdades. Era um homem que mentia por um orgasmo. Escrevia poemas e beijava tão bem como escrevia. Quando me tocava, o mar entrava em mim e nunca mais fugia das mãos dele. Era um homem dotado, bastava um verso para navegar uma mulher. Na verdade, era um barco, pois só um actor comete um naufrágio em cada praia...
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