20/09/06

olhos negros


eram tão fundos. os seus olhos. tão negro. o branco pestanejar. que o mundo todo. parava no arco das sobrancelhas. uns. mergulhavam no abismo cavado. daquele olhar. outros. sentavam-se. a desenrolar malhas de solidão. outros ainda. procuravam um abrigo. um pedaço de pão. numa lágrima desamparada. vinham todos. à procura de algodão em rama. scones. chocolate quente. um cálice de porto. um digestivo. rebuçados. vinham. convencidos que num olhar assim. tão amplo. aplainado de toldos. e cheiros. podiam montar uma quermesse. e só um. alheio ao ruído. ao espalhafato. viu no fundo dos olhos. um princípio de universo. um astrolábio. sentou-se. a decifrar cartas de marés. no manso ondular. da menina dos olhos.




(quadro "olhos negros" de henrique vaz duarte)

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