21/10/06

humilde palavra



certamente. não reparaste. mas naquele dia em que os teus olhos. pareciam uma mensagem. roubada de um aerograma. ouvi na rádio uma voz antiga: semeia uma humilde palavra. neste chão esquálido. em que tememos envelhecer. como chorosos inquilinos. que nunca souberam habitar. o desconfortável aposento da insatisfação. prometi a mim mesmo: um dia vou sentar-me nos teus lábios. beber um cálice de vinho novo. em tanto beijo vindimado. imaginava nos teus cabelos presos. alta vinha. o sol a descrever um arco imprevísivel. e minhas hesitantes mãos percorrendo a passo. sinais. cor de açafrão. condimentando o desejo. de novo aquela voz: semeia uma humilde palavra. sabia. o que era admirar. o corpo de certas mulheres. os cabelos. os ombros. os seios. a maneira como a beleza. provoca quietos furacões. ou tão só. aquele soslaio que faz altear a chama. cafés apinhados a mirá-las por cima das lentes. apeteceu-me fugir do meu próprio corpo. até que li. algures: "desejar é a coisa mais simples e humana que existe". compreendi então. humilde palavra. o desejo.




(fotografia de thierry)

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito lindo. Beijinho.

Anónimo disse...

"Desejar é a coisa mais simplies e humano que existe."
Muito lindo...
Com muito Carinho.Beijinho.

~pi disse...

humilde porque natural, o desejo. naturalizado, sem dúvida, eventualmente hipervalorizado, pergunto. será!?
a primeira parte do texto é muito fluida, uma flor na cabeça...

Anónimo disse...

Pode um desejo imenso arder
no peito tanto que à branda
e a viva alma o fogo intenso
lhe gaste as nódoas do terreno manto e purifique em tanta alteza
o espirito com olhos imortais
que fas que leia mais
do que vê escrito.


Luiz v de camões