23/10/06

tocador de cítara




tardava. o vento. a chuva. um céu desnorteado. aos encontrões. na claraboia. persianas inquietas. estamos encurralados. meu amor. eu. nesta tarde cabisbaixa. colado à voz do Tom Waits. tu. sabe-se lá onde. talvez a contar os feixes de um relâmpago. ou a sacudir. o pó dos livros. contava. contigo hoje. àquela hora. em que o tempo é mais bravio. e as folhas espantam as vidraças. contava contigo. para calafetar janelas e portadas. e juntos. experimentarmos certas delícias. que só a clausura do outono. liberta. deitava os teus cabelos. no tampo encerado da mesa. cabelos alongados. no reflexo. tangê-los. um a um. como. um exímio tocador de cítara.






(quadro de salvador dali)

1 comentário:

Anónimo disse...

As tuas palavras-poema, Alberto, tangem o meu coração, célula a célula, fibra a fibra...
Obrigada!