03/12/06

a insustentável leveza da palavra


quando as palavras já não sustentam. o peso de um sentimento que ocultamos. com um medo aterrador. de nos tornarmos. emigrantes ilegais. num coração naturalizado. há muito. na pátria da fidelidade. elas. as palavras. servem apenas. para preencher. o espaço vazio. em que inventamos. um quintal semeado de nada. e nada é mais brutal. que a sensação de manusearmos. o abandono. convencidos. que estamos em perfeita comunhão com um corpo. sedento de amor. no jogo de enganos. a palavra. é uma muleta carunchosa. pobre do escritor que se atreve. a descrever como erótico. aquele instante. em que uma mulher. sentada ao nosso lado. quase ausente. finge uma terna quietude. como quem assiste. no escuro do teatro. à estreia de uma carícia.




(fotografia de carla salgueiro)

1 comentário: