01/12/06

embarque



antes do regresso
sob um tecto de zinco
avia um adeus atabalhoado
despejando no chão varrido
da sala de embarque
o cheiro do mato
sementes das rubras acácias
o pó da terra bravia
trilhos selvagens.

carvão em chamas
na fogueira dos teus olhos.
será que é ainda brasa?
a inesperada turbulência
de um beijo neste corpo
amarrotado em poços de ar.

não sei meu amor
se ainda me esperas.
com aquela desorientada
vontade: abraços tresloucados
lágrimas e tremores
lábios esbanjadores
pétalas de orvalho
que florescem na raíz dos poros.
esperas-me? no balcão
em que se identificam
desesperados passageiros
perdidos de amor?




(fotografia de joão mota da costa)

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