15/08/06

anjo bravo



a face encharcada de luar. um fio de néon à roda do pescoço. enxame de olhos a zumbir na mata escura. cheira a gengibre e a borras de café. o corpo estirado no chão nocturno prende-me às raízes. indiferente ao latir dos cães ou à cilada das cobras o grito domestica o medo. entra meia desvairada a boca. por caminhos vedados. sei que és tu. por onde passas deixas pegadas brancas. pelo rastejar dos dedos. sei que és tu. pelo chamamento da erva suada. pelo relevo dos seios. dunas rijas. a dança do umbigo. o duelo das ancas. cabelo escudeiro. língua desembainhada. sei que és tu. corpo invencível.

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(fotografia de augusto peixoto)

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