ave rara
há um lugar na praça
onde o sol todo se concentra.
dedo de prata
no pano cru do chapéu.
não uso rimel.não me pinto.
e no entanto dizes tu
este chapéu
é a toda a maquilhagem.
traço de aba castanha
para não passar
despercebida.
quando nos despedimos
o tímido gesto
de colocares o chapéu
faz toda a diferença.
olhas-me como se visses
nos meus olhos
o espelho do camarim.
dás um passo em direcção
ao beijo
e és uma actriz
em dia de estreia.
a sombra que por um instante
treme no teu rosto
expulsa a luz da tarde.
vens à boca de cena
os olhos mudam de cor.
o sorriso muda de margem
as mãos
segregam todo
o ar.
regressarei
um dia.
sem tu saberes.
para assistir à coroação
da princesa
de abas castanhas.
e então sim.
já posso abandonar a praça
no fim do primeiro
acto.
(fotografia de autor desconhecido)
1 comentário:
Deixo aqui o meu primeiro bilhete, escondido neste pequeno vaso da tua casa. Agradeço estas flores.
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