09/08/06

dor perene




não saber
dia e hora
em que o teu corpo esgana
o silêncio
não sentir
o revelo
do sangue.

braços à deriva
sem corpo para navegar
sem olhos para os guiar

onde estão as
amarras do teu porto?
naufrago na lembrança
para não morrer
nas águas vencidas.

amanhâ começa numa
pegada de fumo
marco descoberto
pela cegueira do
anónimo viajante




(fotografia de dionísio leitão)

1 comentário:

Anónimo disse...

já não anoitece, meu amor
a escuridão reformou-se
quando tu choraste
há quarenta e oito horas
que é dia
sabias que as searas
imitam os teus braços?
e as flores
a dança do teu ventre?
sopra uma brisa que agita
o chão do mundo
a natureza inteira persegue
o brilho das safiras
só disponível
nos teus olhos
enquanto a lua apodrece
ao meu lado
o mar arrasta
os destroços dos cometas
nos teus cabelos de prata
depois de ti
a eternidade
é um banco de areia
onde as orcas vêm acasalar
no dorso luzidio
espelham o retrato
do nosso amor
sem herança