07/09/06

de costas



está de costas. recuso-me a ver-lhe o rosto. muito menos os olhos. desconfio que é feia. distante. não quero me apresentem. estou de sentinela. cara fechada. o lugar é uma caserna. envernizada. uma luz distraída passeia. de ombro em ombro. fixa-se numa omoplata. bruscamente. de longe. pouso o olhar. gaiato irrequieto. medindo o peso do ar. absorvendo o perfume selvagem. da negra trança. sempre de longe. para que ela. não sinta. meu respirar apressado. jogo às escondidas. entre as teclas. levanto as pestanas. espreito o rendilhado. penso: esta mulher. chegou do mar. cabelos de água salgada. mas sem o cheiro da maresia. cabelos tímidos. desmaiam na escrivaninha. é a dança. do sargaço. o que eu vejo. nas costas daquela mulher? não sei. nem interessa. a beleza. talvez resida aqui. instante fugaz. luta desigual. entre o que se vê. e o que se imagina. não quero conhecê-la. imaginem!

*

(quadro de picasso)

1 comentário:

Anónimo disse...

É sempre preciso olhar olhos nos olhos, porque eles são o espelho da alma... nem que seja para saber se vale ou não a pena voltar a olhar ...quem sabe... até eles às vezes nos traicionam...é preciso conhecer. há rostos lindos que também enganam. bjs. adorei