26/09/06

servidão



não aguento os olhos. longe de ti. doem-me as têmporas. uma dor. que não cabe em nenhum rascunho. em nenhuma carta piedosa. no outono. as aves do rio atravessam. cansadas. a pálida luz que os peixes saquearam. e eu. quero inventar-te. numa rajada. onde possa enrolar o mistério. do teu sorriso. demonstra-me. só. que és um pouco mais feliz. por seres corpo. e pele. dos meus poemas. hei-de estudar o significado das palavras que não se ouvem. porque só os teus olhos falam. preciso de ti. para erguer o archote da beleza. no meio desta servidão. este modo inviesado. de resumir o gostar. a um apêndice de contracapa. sabes o que é a noite? um caderno esfrangalhado. onde anoto a tua ausência. em voo ferido. sabes o que é a morte? é não existires. fora de um rascunho. delírio. ficcionado.


*

(fotografia de emanuel correia)

2 comentários:

Anónimo disse...

É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente permanecer.

Lembras disto?!

Anónimo disse...

Há momentos em que sobram as palavras. tal como diz o autor e muito bem ¨porque os teus olhos falam¨. Há olhares e carícias que valem mais que mil palavras...

Sabes o que é que te digam que ¨eres corpo e pele dos meus poemas¨isso é o máximo que se pode dizer a quem se Ama...


Adorei o texto meu Amor. Bjs