05/09/06

triste amolador



sabes. meu amor.nem tudo o que o amolador pedia. com seu harmónio de beiços. eram facas. sem gume. guarda-chuvas. sem varetas. garfos.torcidos. nesse tempo. em que pregavas. rascunhos de sonhos imperfeitos. em paredes vazias. o homem da geringonça. pedia mais. que viesses á janela. com teu chapéu encantado. para te afiar o sorriso. ele sabia. como as tuas mãos. escondiam o medo. como os teus olhos. penetravam o volume do pó. como o teu corpo. gazela brava. era um aguaceiro feliz. teus lábios. uma vertigem. avermelhada. e nunca apareceste. meu amor. ele. não voltou a passar. na tua rua. deixou as ferramentas. o torno. enferrujou. só. os olhos. do amolador. ainda lançavam. relampâgos. pelo chão. perdeu. arte. o amolador. perdeu. força. e esperança. o amolador. perdeu tudo. o amolador. desisto. não sei. como. vergar. o aço. desta. paixão. emboscada. entre cortinas. confessou. desolado. o. amolador.

*

(quadro de clemente arce)

2 comentários:

Maresi@ disse...

Ola Alberto

Como é gostoso gostar de te ler!

Continuas com uma escrita muito peculiar...mt própria...
Adorei este texto pleno de metáforas e comparações..
Agradeço comentario em meu recanto bem como palavras belas.
Deixo meu rasto e um

beijo Suave___________Maresi@

Calisto disse...

Alberto, entrego-te um bilhete na tua casa, para que não te enganes mais no número da minha porta. Para que não percas a minha morada. Como o amolador perde a esperança.