antestreia
uma luz amedrontada. esperava os corpos em sereno pavor. ela aquartela-se no reposteiro. era a hora da antestreia. a cama ali. alheia. ao sangue coalhado nas maçâs do rosto. cama impassível. um laço a divagar. sobre o lençol. ele. agarrado à fronha. sem destino certo para as mãos. chamou-a. ela ainda sussurou algo parecido com: ainda te lembras do nosso primeiro beijo. o filme já ia a meio. é sempre assim. no dia em que tudo. é começar de novo. ela franqueia o decote. os seios acastelam-se. ele disfarça o rubor. pendura a ganga no candeeiro. escurecem os cabelos. na luz rasa. cravam os olhos na pele. tela onde projectam. a aventura. do recomeço. combinam intervalos. mas nunca há tempo. de mudar a bobine. os corpos rolam. filme de acção. o desejo é vilão. em papel de vertigem. golpeia. lenços. cobertores. suores. ais. andam mãos braços à bulha. olhos e lábios. em perseguição. quando chega a hora da rusga. já os cotovelos estão presos. à cela do último orgasmo.
THE END.
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(quadro de edgar degas)
4 comentários:
"primeiro beijo
olhos
pele
aventura
recomeço
corpos
desejo
suores
ais
olhos e lábios
na cela do último orgasmos"
Não se podia esperar outra coisa da antestreia. É belissimo.
Assim deve ser o AMOR.
Beijinho
tu vives num estado de pura emoção. também eu, muitas vezes, sinto que só assim vale a pena viver. (daí o conforto quase uterino de vir ler-te...?)
Cinematograficamente visual... Valeu bem o preço do bilhete!
é como não se conseguisse tirar os olhos deste filme.
THE END lembra-me sempre o sabor de lágrimas felizes.
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