cara metade
não quero nada por metade. disse-lhe. olhando as rochas. povoadas de gaivotas. no amor. como no tempo. detesto estados assim assim. nem chove. nem o sol derruba as nuvens. já não suporto. aguaceiros tímidos. neblinas rasteiras. cartas. sem resposta. tempestades frouxas. ela. estava ali parada. a olhar um céu infiel. que ora. mostrava o apego azul. da entrega. ora se deixava. toldar. pelo cinzento voador. de uma amante. nuvem. ela. vinha de um país. onde tudo. o tempo. o amor. o ollhar. se davam. por inteiro. se era para chover. não havia telhado. guarda-chuva. que aguentasse a enxurrada. se era para amar. não havia coração. que suportasse a espera. no centro do furacão. mãos enlouquecidas. despiam os amantes. arrancavam. roupa. cabelos. suor. era tremendamente belo. levantar voo no ciclone. beijo sem fim. lábios presos. abraços insuflados. como pára-quedas. aterrar num campo de papoilas. por fim. olhou-o. sem pestanejar. se é para ser só. a tua cara metade. não estou para isso. vou-me. antes que chova.
*
(fotografia de dani)
6 comentários:
"a chuva não arrefece o desejo"
¨Quero despertar cada manha com o cheiro a flores do teu jardim¨
Adorei o texto, obgd.
Beijinho
¨O verdadeiro amor é tao constante que nao o posso partir pela metade¨
Bjs...
desculpa o tom demasiado prosaico, mas não me ocorre nada melhor: estás em grande, amigo!
:)
Já dizia Torga "...De nenhum fruto queiras só metade"...
“Sabes aquilo que se diz, a cara-metade? A minha cara-metade? E se a pessoa que nos completa é mais do que a nossa metade? Se sem ela somos um terço, ou um quarto, ou menos? E se a nossa cara-metade for bastante mais que a nossa metade? Se for demais para nós? E se em vez de nos acrescentar, ela nos tira?”
Filipe Homem Fonseca, Azul a Cores
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