25/10/06

instante



detem-te instante és
tão belo.Goethe



não. não era a beleza de lustre que lhe ceifava o tino. nem aquela desorbitada meia lua que girava. num pranto encovado. pelos subúrbios de um corpo guilhotinado. em vestido de gala. não. não era. a pose. a frase afiada.o queixo descaído. os dedos de flautista. em boquilha dos trezentos. nem o umbigo insolente. ou os seios de mámore. nenhum adorno. ou um gesto de cêra. logravam. competir. com aquele instante. em que o universo. se detem. aquele momento: a lágrima cai. a madeixa tomba. sobre o copo vazio. a fala desmaia. os lábios colapsam. a testa ferve em suor. o pânico inaugural. em que uma mulher. renuncia a tudo. e num soluço interminável declara:sabes. meu amor. já não aguento a minha beleza. encerrada. esta estátua de marfim . atrelada à tua procissão de vaidades. se não cuidas. a beleza envelhece. os nossos beijos. estão moribundos. já não me tocas. sacodes-me. no escuro. e penduras-me. na colecção do ano passado. não quero morrer. em braços comprados.


*

(fotografia de autor desconhecido)

4 comentários:

Anónimo disse...

Carinho, esse texto diz-nos demasiado.Sao palavras muito sentidas.como tudo o que escreves. adorei.
Obgd. Beijinho.

Anónimo disse...

"Ninguna cosa muere que en mí no
viva"
GOETHE

Anónimo disse...

Cuéntamelo otra vez...
es tan hermoso que no me
canso nunca de escucharlo.
Repíteme otra vez que la pareja
del cuento fue feliz hasta la muerte,
que ella no le fue infiel, que a él ni siquiera
se le ocurrió engañarla.
Y no te olvidesde que,
a pesar del tiempo y los problemas,
se seguían besando cada noche.
Cuéntamelo mil veces, por favor:
es la historia más bella que conozco.

Amalia Batista

~pi disse...

Parar tudo, respirar por dentro o ar que atravessa cada momento,
beijo