marco do correio

quiosques. desses que nos lembram antigas casas de bonecas. toldos coloridos. muita bugiganga. pendurada. o vermelho da madeira a luzir. brinquedos talhados em folha de flandres. um losângulo de relva. a tarde a brincar na sombra. os teus cabelos. no fundo da esplanada. moínho de vento . se é num lugar assim. o nosso próximo encontro. fica já marcado. levo o marco do correio. o único que ainda sobrevive. na minha cidade. amarfanhado entre mato. e prédios em ruína. corpo descomposto. barriga de ferro. esfacelado. já ninguém repara. no pobre marco. e no entanto. é dele. que depende. o nosso amanhã. depositário fiel. das muitas cartas. que ainda não escrevemos. tantas lágrimas que ainda temos de chorar. antes de encerrarmos os envelopes. com um marco de correio. nesse lugar. onde o sol. no seu longo passeio. pelo dia. não esbarra em grades de cimento. nem em muros. que guilhotinam. o fôlego do tempo. com o marco do correio. dizia. ali à nossa beira. não te deixo partir. a tua missão. é tratares desse menino desprezado. abraçares-te a ele. ao baixinho. rechonchudo. matar-lhe a fome. já não digo de cartas. que isso já não pega. mas. sei lá. alimentá-lo. com sementes de gardénias. ou com os nossos beijos. tatuados em postais.