05/11/06

amor errante



olhou-a demoradamente anteontem. conheceu-a vagamente ontem. fez meia cura de melancolia hoje. amanhã. o que faremos? perguntou-lhe ele. meio envergonhado. o sol. as estrelas. os planetas. andam em rotação permanente. queres encerrar-me já num quarto. fingindo que o tecto é um céu de porcelana. alcova cibernética entre quatro paredes? não. meu amor. respondeu-lhe ela. anda. vem comigo. confiar o imprevisto á lua cheia. descobrir o marco de um anónimo descobridor. na fenda do monte. vamos. estrada fora. tocados pela aragem dos choupos. faz de conta. que "somos nómadas. desde que nascemos". cobre-te de primavera. guarda as milhas do cartão de passageiro frequente. para uma viagem de negócios. pelo o ar. as cidades. são farrapos. descozidos à velocidade da luz. se julgas que os aeroportos. são a porta de entrada. da grande aventura. enganas-te. vendem-te. apenas. o prazer embalsamado. luzídios guias. sonhos de estufa. distribuídos em terminais de comida rápida. se queres saborear o namoro. lembra-te dos primeiros passeios da infância. o cheiro da erva. quantas vezes não te perdeste no emaranhado de sombras e carreiros. antes de chegares à escola? sigamos então. o caminho dos animais. as pegadas dos pássaros. imagina que somos noivos à maneira antiga. dispostos a perder a virgindade. numa terra longínqua. em que os pastores. alindam jardins de areia. desvendemos os lugares do amor. a meio caminho do desconhecido. não me toques. ainda. a viagem é longa. em cada acampamento. os teus olhos vão chorar. saudades de uma vida selvagem. ao som de uma guitarra. não me beijes. antes de celebrarmos o namoro. deixa as tempestades de areia. despir-nos num chão de pedras ásperas. o trilho dos cometas. há-de conduzir-nos à tenda de lona .cerraram os olhos. ele estendeu o mapa. sobre os joelhos. pediu-lhe: aponta à sorte uma rota. amanhã. inauguramos. o atalho. do amor errante.


*

(fotografia de augusto peixoto)

9 comentários:

Anónimo disse...

:)
*

Anónimo disse...

Se algo aprendi,com o passos dos
anos nesta vida:foi aceitar todo da vida mesma.
Sigamos o percurso da vida.

Anónimo disse...

Nesta história apenas eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.

P N.

Isabel disse...

Adorei o teu texto, a tua sensibilidade associada á fluidez da tua escrita criaram um resultado admirável.

Voltarei para te ler mais certamente.

Isabel

Anónimo disse...

Quem dera... (nem companheiro nem trilho)

alberto serra disse...

leia na fluidez do tempo
a memória dos ninhos onde as rolas
desenhavam o alvorecer.terá a isabel a dimensão de um tronco
agasalhado pela seiva?

alberto serra disse...

explique pinky como é possível a errãncia sem trilho nem ajuda?

Anónimo disse...

Pois, Alberto, é custosa (e tem muito menos graça...). Por isso ando assim, meia perdida...

Anónimo disse...

Este último comentário é meu... Só agora me aprecebi que saiu anónimo. Sou eu, sou eu!!