amor errante
olhou-a demoradamente anteontem. conheceu-a vagamente ontem. fez meia cura de melancolia hoje. amanhã. o que faremos? perguntou-lhe ele. meio envergonhado. o sol. as estrelas. os planetas. andam em rotação permanente. queres encerrar-me já num quarto. fingindo que o tecto é um céu de porcelana. alcova cibernética entre quatro paredes? não. meu amor. respondeu-lhe ela. anda. vem comigo. confiar o imprevisto á lua cheia. descobrir o marco de um anónimo descobridor. na fenda do monte. vamos. estrada fora. tocados pela aragem dos choupos. faz de conta. que "somos nómadas. desde que nascemos". cobre-te de primavera. guarda as milhas do cartão de passageiro frequente. para uma viagem de negócios. pelo o ar. as cidades. são farrapos. descozidos à velocidade da luz. se julgas que os aeroportos. são a porta de entrada. da grande aventura. enganas-te. vendem-te. apenas. o prazer embalsamado. luzídios guias. sonhos de estufa. distribuídos em terminais de comida rápida. se queres saborear o namoro. lembra-te dos primeiros passeios da infância. o cheiro da erva. quantas vezes não te perdeste no emaranhado de sombras e carreiros. antes de chegares à escola? sigamos então. o caminho dos animais. as pegadas dos pássaros. imagina que somos noivos à maneira antiga. dispostos a perder a virgindade. numa terra longínqua. em que os pastores. alindam jardins de areia. desvendemos os lugares do amor. a meio caminho do desconhecido. não me toques. ainda. a viagem é longa. em cada acampamento. os teus olhos vão chorar. saudades de uma vida selvagem. ao som de uma guitarra. não me beijes. antes de celebrarmos o namoro. deixa as tempestades de areia. despir-nos num chão de pedras ásperas. o trilho dos cometas. há-de conduzir-nos à tenda de lona .cerraram os olhos. ele estendeu o mapa. sobre os joelhos. pediu-lhe: aponta à sorte uma rota. amanhã. inauguramos. o atalho. do amor errante.
*
(fotografia de augusto peixoto)
9 comentários:
:)
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Se algo aprendi,com o passos dos
anos nesta vida:foi aceitar todo da vida mesma.
Sigamos o percurso da vida.
Nesta história apenas eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.
P N.
Adorei o teu texto, a tua sensibilidade associada á fluidez da tua escrita criaram um resultado admirável.
Voltarei para te ler mais certamente.
Isabel
Quem dera... (nem companheiro nem trilho)
leia na fluidez do tempo
a memória dos ninhos onde as rolas
desenhavam o alvorecer.terá a isabel a dimensão de um tronco
agasalhado pela seiva?
explique pinky como é possível a errãncia sem trilho nem ajuda?
Pois, Alberto, é custosa (e tem muito menos graça...). Por isso ando assim, meia perdida...
Este último comentário é meu... Só agora me aprecebi que saiu anónimo. Sou eu, sou eu!!
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